Diário Oficial de Sexta-feira - Nº 20637 - 19/08/2011 - Ano XCV Bahia reconhece trabalho social e religioso da irmã Renata Saura
|
| ||
Maria del Carmen entregou a honraria à religiosa, que atualmente reside na Itália | Plenário aplaudiu a madre superiora da Congregação das Irmãs Estabelecidas na Caridade |
Após 22 anos de serviços prestados às comunidades carentes de Salvador, a irmã Renata Saura foi condecorada ontem pela Assembleia Legislativa com o título de cidadã baiana. Ela é a madre superiora da Congregação das Irmãs Estabelecidas na Caridade, localizada em Florença, na Itália, e foi uma das quatro religiosas daquele país que chegaram, em agosto de 1989, para realizar atividade missionária no Subúrbio Ferroviário.
"As irmãs participam da missão evangelizadora da Igreja e da difusão do reino de Deus, dedicando-se à contemplação e ação pastoral, com atividades paroquiais, escolas e várias formas de acolhida e hospitalidade", definiu a deputada Maria del Carmem (PT), autora da proposta de outorga do título, durante o seu discurso de saudação à madre.
IMPACTO
Del Carmem iniciou seu pronunciamento falando da história da congregação, fundada em 1589. Logo em seguida, lembrou o impacto que a realidade de miséria e exclusão social da Boa Vista de São Caetano causou na italiana. "O seu maior choque foram as crianças, na sua maioria negras, que ficavam perambulando descalças nas ruas, pedindo esmolas", contou, emendando: "Imediatamente nasce o desejo de ensiná-las a ler e escrever."
"Em duas décadas, ela enfrentou dificuldades junto com pessoas carentes na luta por direitos negados", disse, ressaltando que "não é fácil manter a Escola Comunitária Estrela da Manhã (no bairro de Capelinha), Escola Comunitária Sol da Manhã e o Centro Educacional da Comunidade (ambos na Boa Vista de São Caetano)". Ao todo, são cerca de 900 alunos sendo educados, cuidados e nutridos pela congregação em Salvador.
RETORNO
Madre Renata só saiu da comunidade suburbana em março deste ano, "deixando imensa saudade em todo o povo baiano, particularmente nas comunidades onde atuou", para assumir a função de madre geral da congregação, em Florença. A Assembleia aproveitou a ocasião de sua visita a unidades da ordem no Brasil (Bahia e Pernambuco) para outorgar o título previamente aprovado em plenário.
Descrita como pessoa alegre, irmã Renata foi acolhida com arranjos de flores em uma sessão que teve cânticos conduzidos por Aparecida Alves e as crianças das escolas da congregação, coreografia do Grupo São João Batista. No entanto, a sessão nem tentou esconder a dura realidade em que a ordem religiosa se encontra imersa na capital baiana. Muito pelo contrário.
Logo ao abrir a sessão, durante a exibição de slides, a irmã Irany Santana foi mostrando que muitos dos problemas encontrados pela ainda irmã Renata ainda estão lá, como as encostas, a falta de saneamento e pavimentação, as dificuldades de transporte, e outros que só fizeram se agravar, como a violência e as drogas. Contou casos recentes de dois tiroteios em que as pessoas se refugiaram na Igreja de São Nicolau para escapar, ou que assombraram as crianças da Escola Sol da Manhã.
VIOLÊNCIA
"Quem frequenta aqueles bairros não parece estar em Salvador", disse, aproveitando a presença na mesa dos trabalhos do major Gilson Seixas, representando o comando da Polícia Militar, para que aquela corporação tenha um olhar especial para aqueles bairros, "onde crianças e adolescentes estão constantemente expostos". Del Carmem, em linhas gerais, voltou a tratar do assunto.
A vereadora de Salvador Marta Rodrigues ocupou a tribuna para saudar a homenageada e dizer que "tentar descrever tudo o que irmã Renata representa é um desafio". O padre Zé Carlos protagonizou outra quebra de protocolo para dizer que "o título é a ratificação do muito que irmã Renata realizou". Para ele, a Bahia está de parabéns por ganhar uma cidadã que tanto se dedicou aos mais carentes.
AGRADECIMENTO
Ao agradecer pela outorga do título, madre Renata contou que se questionou: "por que recebê-lo, o que me torna baiana? Muitos dizem que ser baiana é saber dançar, eu não sei". Segundo ela, a resposta veio na qualidade festeira do baiano, "em um sentido mais profundo do que se imagina."
"Se viver em festa significa alegrar-se com o desenvolvimento de uma criança, é festejar com os jovens das nossas escolas comunitárias ou das nossas comunidades eclesiais que entram numa universidade ou disputa uma Olimpíada, é alegrar-se quando uma mulher conquista a sua dignidade perante a sociedade, então sou festeira", anunciou.
A religiosa afirmou também que "foi aqui que comecei a lutar para promover a cidadania, foi na periferia de Salvador que a congregação quis encarnar o carisma de ‘acolher, educar e formar’ para a vida". Neste contexto, ela considerou que o que a torna baiana "é a identificação que tenho por esse povo lutador, guerreiro, corajoso, esperançoso."
Ao final, ela agradeceu pela atenção dispensada a ela. "Desejo ressaltar que, se aceitei este título, o fiz não por mim, mas por ser um reconhecimento de um trabalho missionário de todas as irmãs que trabalham comigo, oblatos, amigos e colaboradores da nossa missão". Ela agradeceu ainda à petista "não apenas por esta honra, mas por ser parceira de luta nas nossas comunidades, tantas vezes esquecidas pelos poderes públicos."
diario oficial