Notícias da missão na África!
Para todos os que estavam aguardando mais notícias, está aí a última carta das nossas irmãs que estão em Burkina Faso.
Zorgho,27 de abril 2014
“A paz esteja convosco” (Lc 24,36)
Queridas Coirmãs,
Oblatos, corpo docente e discente das nossas escolas. Caríssimo Dom Egídio, Pe. José Carlos, Pe Adriano
e irmãos e irmãs de caminhada das paroquias do Sagrado Coração de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição de Guadalupe e da comunidade de S. Cristóvão em Varzinha,
que a PAZ DO CRISTO RESSUSCITADO envolva a vida de cada um.
Mesmo distantes geograficamente vivemos em
comunhão, pois no Cristo formamos um só corpo. “E se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento;
se um membro é honrado, todos os membros participam de sua alegria”. (1 Cr
12,1. 26). Deste modo, estivemos
unidas e rezamos por vocês na situação de terror que viveu a cidade de
Salvador, lamentamos a perca de vidas jovens e inocentes, pedimos que Deus
conforte e faça justiça às famílias atingidas de modo particular à família da professora
Patrícia. Unidas em oração com Dom Egídio e os familiares dos padres (diocese
de Vicenza) e uma religiosa que estão nas mãos de sequestradores em Camarões-África,
esperamos boas novas de ressurreição. Unimos-nos também ao sofrimento dos pais
do pequeno Guilherme (aluno da nossa escola na Itália) que luta contra um
câncer, pedimos que o Senhor os ajude a superar esse momento de dor e que sendo
da sua vontade que lhes conceda a cura.
Compartilhamos também com vocês das vossas
alegrias. Celebramos a Páscoa do Senhor em comunhão com todos em especial com as
comunidades do CRISTO RESSUSCITADO da Fonte do Capim (Salvador) e do Alto do
Bom Jesus (Serra Talhada) que celebraram o seu titular. Compartilhamos do momento de festa da
comunidade de S. Marcos que celebrou o seu padroeiro. Nos alegrarmos pelos
encontros dos Oblatos quer seja no Brasil quer seja na Itália, pelo
desenvolvimento dos trabalhos nas nossas escolas, nos alegramos por saber que a
chuva chegou no sertão Pernambucano, mas a nossa maior alegria está em saber do
compromisso de cada um na vida pastoral das comunidades.
E como havíamos prometido que sempre que
possível daríamos noticias, tentaremos em poucas e ressumidas linhas partilhar
um pouco sobre o nosso caminho. Eis o relato de três crianças que estão em fase de aprendizagem, que
retratam os passos dos três primeiros meses de adaptação em Burkina-Faso.
Como já sabem deixamos a capital (Ouagadougou) e
desde do dia 11 de abril moramos na cidade de Zorgho em uma casa oferecida pela
diocese de Koupéla, no espaço onde funciona um Centro Oftalmológico diocesano e
que atende diariamente a cerca de 250 a 300 pessoas. É uma casa provisória
enquanto não é possível construir a nossa.
A cidade de Zorgho fica a 25 km da Paróquia de Nedogo, onde vamos atuar.
Neste período o calor é intenso, podendo variar
de 40 a 45 graus, e nem sempre é
possível recorrer ao ventilador pois falta luz um dia sim e no outro também, a
chuva só caiu duas vezes, pouca água antecipada de uma “chuva” de poeira muitos
raios, vento e trovoadas, porém a vida aqui é bem melhor que na capital como
todos devem imaginar.
Fomos muito bem acolhidas pelo pe. Dominique
(administrador do Centro Oftalmológico) que esta sendo um verdadeiro professor,
conselheiro e amigo, nos vista sempre para saber como estamos e nos explica sobre
a vida, a cultura e os hábitos locais, é um compromisso diário durante estes
primeiros 15 dias que estamos aqui. Ele nos apresentou às autoridades locais, à
polícia nacional e à local e ao Prefeito da cidade (esta apresentação faz parte
da cultura local) todos nos acolheram muito bem, melhor ainda quando sabem que
somos brasileiras. O chef da polícia disse para os guardas apresentarem as
esposas para que nós as ensine a jogar futebol. Para visitar o Naaba (chef da
comunidade) não chegamos a ir na sua casa pois o encontramos ocasionalmente em
uma loja e nos saudou com muita alegria, nos deu as boas vindas e desejou uma
boa missão e nos disse que se a Seleção de Burkina-Faso estivesse na Copa do
Mundo iria ao Brasil.
O pe. Louis, da diocese de Tenkodougou, veio nos
visitar e entre muitas coisas que nos disse, falou que o estrangeiro tem olhos
grandes, mas que não são capazes de ver nada e que não precisamos nos preocupar
porque com o passar do tempo eles vão deixar de ser estrangeiros para tornar-se
nativos e só então poderão perceber, enxergar e entender o que vê. Ou seja, não
precisamos ter pressa e nem nos inquietar demais quando não entendemos muitas
coisas. A ele damos total razao, pois estamos tendo que aprender coisas muito simples
como: as diferentes formas de saudação local, pois existe uma para cada
ocasião, a saudação de um visitante não é a mesma para com as pessoas que
encontramos caminhando pela rua ou no seu trabalho, temos que aprender a dura tarefa
de permanecer em silêncio diante de uma vista até que ela tenha bebido a água
das boas vindas, pois segundo a tradição, aqui é o pais da sede, quem chega em
sua casa percorreu um caminho longo e antes de falar é preciso que primeiro
beba água, só a partir de então poderá partilhar as boas novas, porém se um
visitante se recusa a beber água, é sinal que veio trazer uma má notícia ou
declarar guerra contra você, ressumindo temos que beber “zom – koom” (água das
boas vindas), mesmo que não estejamos com sede. Tivemos que aprender a
distribuir a Eucaristia em mooré “ad
Christa ynga” (eis o Corpo de Cristo) pois aqui a grande maioria só fala
mooré.
Mais o nosso conforto e alivio está em sermos
Católicas, pois quando estamos em um lugar onde não entendemos nada percebemos
o que quer dizer Unidade, pois o mesmo Mistério que celebramos em nossa língua
materna é o mesmo celebrado em uma língua totalmente nova para nos e nos
envolvemos e nos sentimos unidas.
No Domingo de Ramos, certas que participaríamos
de uma peregrinação, imaginamos a benção dos ramos, a caminhada, os cânticos e
a procissão... nada de procissão, percorremos o caminho até Nonglem Tanga
(montanha do Amor) de carro e na estrada muitas crianças andando ou em suas
bicicletas ou a pé, adultos em suas bicicletas ou motos, os ramos mau dava para
enxergar a maioria estava dobrado em forma de Cruz ou era muito pequeno.
Chegamos a Nonglem Tanga, e o pequeno monte já estava tomado por uma multidão
que mau dava para caminhar e mesmo sendo
tudo em mooré, três horas de celebração debaixo de um sol escaldante, foi muito bela a celebração. Após
a missa fomos para Pousghin Village vizinho ao lugar da peregrinação, lá fomos
juntamente com o Bispo dom Seraphin, os Pe. Joseph e Donatien fomos acolhidas
dentro dos costumes locais, com água das boas vindas, depois as lideranças
entre elas o Naaba (chef do village) informou a situação do povoado: falta de água,
de posto de saúde, de pastagem para os animais...terminados os relatos e as
possíveis soluções doaram um bode e algumas galinhas ao bispo ainda bem que o
carro tinha bastante espaço...
Para o tríduo Pascal, deveríamos retornar a
Nedogo, mas todos estavam preocupados se resistiríamos as situações climáticas,
e decidiram que permaneceríamos em Zorgho. Como para nós tudo é novo temos que
acolher o que decidem.
A liturgia foi muito bem preparada, os padres (são
04 na paróquia) se revezaram na presidência das celebrações, nos ensaios do
coral, na preparação dos leitores e coroinhas, ressumindo em termos de preparação
dos leigos e organização de cada evento das comunidades nos deixam surpresas.
A igreja encontra-se pronta para Ceia do Senhor,
belas toalhas enfeitadas com flores coloridas feitas de tecido, para o
ofertório junto com o pão e o vinho no lugar da nossa tradicional uva, havia bacias
plásticas contendo o que de melhor poderiam ofertar ao Senhor como tomates, cebolas,
pimentões, pepinos e até jilós. Aos poucos a igreja ficou lotada, vibrante de
cores, dos panos, das vestes, de musicas, danças, gritos de alegria... e após a
missa a vigília realizada por diferentes grupos, iniciando-se pelas crianças e
jovens e concluídas padres e religiosas a 00:30.
Na manhã da sexta – feira Santa a Via – Sacra seguida por uma multidão
orante, à noite a celebração foi realizada fora da igreja em um enorme espaço
com bancos de cimento e tendo por cobertura as arvores, o céu, as estrelas e a
lua brilhante. E o que nos chamou a atenção foi o momento da adoração da Santa
Cruz devido ao grande número de pessoas apenas representantes realizam a
adoração, sendo eles padres, religiosas, catequistas e alguns coordenadores de
grupo, no final da celebração o Crucifixo continuou exposto para adoração.
A Vigília Pascal também foi celebrada fora da
igreja, no templo natural coberto pelas arvores, iluminado pela lua e as
estrelas e a fogueira, aos poucos pontinhos de luzes surgia a medida que o Círio
pascal passava entre a multidão, todos iluminados, é proclamada a Páscoa,
festa, danças, musicas e a celebração que iniciou as 21:00 hs terminou as 1:30
da manhã. Um grande número de catecúmenos entre eles alguns nos chamava atenção
idosos com seu bastão na mão e passos lentos, mas olhos vibrantes de alegria
por receber o batismo. Porém algo nos despertou a curiosidade vimos um pequenos
grupo de mais ou menos oito pessoas que realizaram as promessas, mas não foram
batizadas, mais tarde veio a explicação são aqueles pessoas que tem problemas
conjugais (poligamia) elas descobriram o Cristo quiseram fazer os quatro anos
de preparação (catequese), mas não podem receber o batismo e não podemos
abandona-los nos diz o pároco Maurice enquanto nos explicava.
No domingo de Páscoa conhecemos a comunidade de
Imiga, lá como em todas as comunidades que conhecemos o numero de pessoas
assusta, transborda dentro da igreja e no terreiro debaixo das arvores. Fomos com
o abbé Dominique e Ir. Odile. O numero de catecúmenos trinta adultos e vinte
bebes, no final da celebração uma nuvem de poeira subia da dança que realizavam
fora da igreja, depois nos conduziram até uma sala onde nos serviriam o almoço,
trazidos na cabeça por duas mulheres em duas grandes bacias que foram colocadas
no chão que é um costume local. O que gerou uma preocupação para o padre e a
irmã que nós acompanhou, por conta da qualidade da comida, para que não nos
fizesse mal, mas nós comemos e graças a Deus não nós aconteceu nada e por sinal
a comida (arroz, macarrão com frango) estava muito boa.
Temos muito para contar, mas não faltara
oportunidade esses são alguns fatos que para nos foram marcantes e por isso
queriamos compartilha-los com vocês que seguem nosso caminho com a presença
amiga e orante, que é para nós motivo de alegria e gratidão.
Ainda em plena Páscoa desejamos, a cada um, que
a Luz do Ressuscitado os ilumine e que sejam luzes em meio as difíceis
realidades que obscurece a vida.
Unidas na oração e na missão
Ir. Irany, Ir. Rosemeire e Ir.Rita de Cassia.